terça-feira, maio 10

É hora de partir

Ela se foi com o coração na mão e um sorriso falso nos lábios. A boca entreaberta, como quem assinala uma confissão de falta de ar.

Partiu em busca de outros gases, bem menos venenosos, bem mais explosivos.

Trazia consigo a mala pronta, os porta-retratos numa sacola de compras antiga de papelão, muito bem dobrada, que esperava ansiosa o dia em que seria usada.

Lembrou do perfume na cômoda: Jasmim... Hesitou por um instante.
- Que faria sem jasmim?
Tomou por bem se despedir do passado.
E convenceu a mente de que melhor seria a vida sem o cheiro do pretérito.

Partiu sem deixar rastros, carta, recado na secretária ou forma de contato.
Queria se despedir do mundo de forma ingrata, sem dizer adeus.
Queria possuir os átomos do tempo, domesticá-los e dominá-los.

domingo, outubro 24

Um amor de Rotina



Eu não sou muito afeita a poesia. Gosto de algumas coisas. Uma aqui, outra acolá. Gosto mesmo é da prosa... e de prosear, como dizem por aqui. Acho que por isso eu escolhi a profissão dos que narram. Ou quem sabe, seja só o acaso.

O fato é que quando gosto do poema, é porque sinto como se o tivesse. Como se fosse meu e para mim. Porque me traduz, ou me explica, seja com duas dúzias de estrofes ou com dez palavras soltas. 

E acredite, meu caro, não tenho propriedade nenhuma para julgar um poema. Só sei do que gosto e isso me basta. Não entendo os pormenores da arte literária, só sei do que me apetece. Então não me julgue pela simplicidade do que ler a seguir:

Adoro Elisa Lucinda. A cantora, a atriz, a multitarefas, mas especialmente, a poetisa. Me atrai essa faceta de desenhar o cotidiano com frases ‘café com leite’. Parece arroz soltinho, com feijão preto e ovo frito, mas é tão bom, que você esquece do quanto é simples.

Um dos meus preferidos se chama ‘Termos da nova dramática (Parem de falar mal da rotina)’. E pra quem vive um amor de 10 anos, cai como luva. Porque vivo de rotinas e amo as fases pelas quais passei. Soube aproveitar cada momento e cada estilo de rotina e continuo amando e me enxergando no brilho dos olhos de quem amo. Porque essa rotina só é rotina quando é enfadonha, quando cansa e tira a vontade de estar junto.

As rotinas se reciclam com as pessoas...

No post abaixo, a transcrição do poema:

Poema


ELISA LUCINDA
Termos da nova dramática (Parem de falar mal da rotina)’.  

Parem de falar mal da rotina
parem com essa sina anunciada
de que tudo vai mal porque se repete.
Mentira. Bi-mentira:
não vai mal porque repete.
Parece, mas não repete
não pode repetir
É impossível!
O ser é outro
o dia é outro
a hora é outra
e ninguém é tão exato.
Nem filme.
Pensando firme
nunca ouvi ninguém falar mal de determinadas rotinas:
chuva dia azul crepúsculo primavera lua cheia céu estrelado barulho do mar
O que que há?
Parem de falar mal da rotina
beijo na boca
mão nos peitinhos
água na sede
flor no jardim
colo de mãe
namoro
vaidades de banho e batom
vaidades de terno e gravata
vaidades de jeans e camiseta
pecados paixões punhetas
livros cinemas gavetas
são nossos óbvios de estimação
e ninguém pra eles fala não
abraço pau buceta inverno
carinho sal caneta e quero
são nossas repetições sublimes
e não oprime o que é belo
e não oprime o que aquela hora chama de bom
na nossa peça
na trama
na nossa ordem dramática
nosso tempo então é quando
nossa circunstância é nossa conjugação
Então vamos à lição:
gente-sujeito
vida-predicado
eis a minha oração.
Subordinadas aditivas ou adversativas
aproximem-se!
é verão
é tesão!
O enredo
a gente sempre todo dia tece
o destino aí acontece:
o bem e o mal
tudo depende de mim
sujeito determinado da oração principal.

quinta-feira, setembro 23

Um Golaço

Torcer por um time é moleza. Você se identifica com as cores, o brasão, com o craque, com os hinos das torcidas e do clube. Cada momento é especial. Quem gosta mesmo de futebol sabe do que eu tô falando. A gente lembra do jogo mais difícil, do gol mais bonito, da comemoração mais festiva, e de tantas outras coisas que poderiam ser lembradas e esquecidas.

Eu lembro dos anos dourados dos embates entre Palmeiras e Corinthians no paulistão de 95. Eles tinham Evair e Edmundo e nós tínhamos Rivaldo e Viola; Eles tinham Mancuso como volante e a gente tinha o Zé da Fiel (Zé Elias); Eles tinham Veloso no gol e a gente tinha Ronaldo. Eram embates memoráveis. Dava gosto de ver... E eu (corinthiana rôxa) e minha irmã (palmeirense desgraçada) cruzando os dedos por nossos escudeiros.

Futebol pra mim é religião. Mas uma religião sem radicalismos. Futebol merece respeito, merece discussões – bem ao estilo mesa redonda, merece bandeira hasteada na sacada e você, vestindo a camisa do seu time com orgulho, mesmo que ele seja o Íbis.

Invejo a torcida do Santa (Cruz). Até para troca de gramado eles lotam estádios. Não importa se o time está na série A, B, ou J. É sempre o ‘Santa’ e merece respeito. E é também por isso que amo meu Timão. Um ‘sofredor’ fiel jamais sucumbe ao simples fato de ver seu time perder. É isso que o torna valente, meus caros. A alegria da vitória é comum a todos, mas o abraço na derrota é condição sine qua non dos que tem força de caráter. Daqueles que não dobram os joelhos, pois não se sentem derrotados.

Este texto é para homenagear minha queria República Popular do Corinthians, que em seu centenário, há de continuar orgulhando-me, seja como for. Por que eu não sou corinthiana porque escolhi ser corinthiana. Ele me escolheu e eu, pobre de mim, me enamorei deste alvinegro tão inconstantemente generoso.

PS.: Quero mandar um salve para: Lula lá, Ayrton Senna do Brasil, Casagrande, Deco, Sócrates, Biro-Biro, Tévez, Ronaldo (goleiro), Zé Elias, Elias, Rincón, Rivaldo, Marcelinho pé de anjo, Vampeta, Viola e Ronaldo (brilha muito no Corinthians).

sexta-feira, setembro 10

Reivindico meu direito à preguiça!

Embora seja um dos 7 pecados capitais, a preguiça, dissolvida no meu mar de qualidades (estou rindo horrores, acompanhada de minha modéstia), se faz presente no meu dia-a-dia. Mas ainda assim, acho que PREGUIÇA é um conceito discutível:

Para mim, preguiça é quando alguém que não faz nada, sente vontade de continuar não fazendo nada. Se alguém que trabalha um bocado tende a se recusar a sair da cama no seu dia de folga, isso não é preguiça... é necessidade.

Por exemplo, em mais de uma ocasião eu, por não ter o controle remoto ao alcance das mãos, fiquei acompanhando o que existia de pior na televisão. O erro foi meu e eu paguei por ele. Ao deitar, é preciso verificar se o comando da TV está alcançável pelo pé ou braços. Do contrário, você pode esperar seu cônjuge adentrar o recinto e pedir-lhe o controle alegando que 'já estava me levantando pra pegar, quando você chegou'.

É bom que se diga que pior que não ter o controle à mão, é tê-lo e, ao se esparramar no sofá, perceber que um gênio desligou a TV, na própria TV. Colegas, isso não se faz. Devia estar na Declaração Universal dos Direitos Humanos: a televisão é para deixar no stand-by!

segunda-feira, agosto 30

Santa paciência, Batmam!


Carolina, meu bem, um passo de cada vez. Faça este favor a si mesma.

(...)

As vezes tenho a impressão de que vou explodir. Minha consciência, tem prazo de validade: expira em dezembro.

Uma coisa é digna de nota: Tô ficando louca, estressada, impaciente e, o pior de tudo, sincera demais.

Se alguém me cutuca, acaba ouvindo um monte de verdades que, de tão reais, acabam sendo dolorosamente absurdas.

E eu, que sempre fui polida e poderada, tô me tornando a 'voz da experiência', aquela que tudo sabe, que tudo entende. Odeio isso! me sinto mal e acabo ficando borocoxô.

Não sou de vomitar verdades, mas ultimamente eu tenho me deixado mais livre e mais honesta, sem nenhum tipo de radar de 'simacol'. Pena que isso, apesar do desabafo, não faz a gente mais feliz. Ao contrário, nos deixa mais tristes, pelo menos no meu caso.

Quem quiser que me reprove, mas essa coisa de 'postura cristã' dá certo sim: piedade, compaixão, amor... tudo isso faz um bem danado. Faz a gente se sentir mais leve e mais tranquilo.

Tem gente que explode e se sente bem. Eu não. Eu me sinto mal. E sempre foi assim. Não gosto de ser essa fortaleza toda. Eu gostava mais quando cuidavam de mim. Quando eu era mais retraída. Mais prudente. Mais calma... As vezes o silêncio é reconfortante!

Só quero que parem o mundo... Preciso descer!

ps.: Mas como diria Paulo, o apóstolo: '(...) quando sou fraco, então é que sou forte'.

quarta-feira, julho 7

Minha prece

Não mereço, nem quero – necessariamente – o perdão de ninguém.
Na verdade, não há o que ser perdoado.
Eu disse o que disse. E dito está!
Eu vi o que vi. E visto está!
Eu fui o que fui. E sou assim!
Não estática. Não estanque.
Mas mutante, mesmo que de forma cadenciada e pouco evidente.

Isso é uma prece. Apesar de não parecer.
Uma prece de quem pede que me livres, Senhor, de mim e do meu ego.
Que me faças sucumbir ao que sempre me foi caro: inocência.
Eu não quero saber tudo. Não quero saber do mundo.
Dói entender a vida.
Quero permanecer vendada.
Diante da felicidade tola de quem ainda acredita nas pessoas, nas ideias...

Livrai-me dos meus maus momentos;
Livrai-me dos meus maus desejos;
Livrai-me até dos meus lampejos;
Livrai-me dos espelhos, se eu tiver que ver aquilo que não sou;
Livrai-me do rancor, que jamais esteve presente naquela que já fui.

Devolve-me a ternura. Ela é que me apetece.
Sim. Isto é uma prece.